Após um longo hiato de incerteza, a Food and Drug Administration (FDA), agência sanitária dos Estados Unidos, determinou que a Juul deve parar de vender seus cigarros eletrônicos no país. A suspensão veio com a decisão da agência de negar a permissão de comercialização dos produtos da empresa, solicitada anos atrás e sucessivamente adiada. Ainda nesta semana, a FDA também anunciou que pretende implementar regras para limitar a quantidade de nicotina presente nos produtos de tabaco para diminuir o potencial aditivo.
A Juul é uma das principais fabricantes de cigarros eletrônicos do mundo e é considerada em grande parte responsável pela epidemia de consumo em adolescentes e jovens adultos americanos. A história da empresa e parte do imbróglio com a FDA é retratada no documentário Cigarro eletrônico: Como tudo deu errado (no original em inglês, Move Fast & Vape Things), disponível no Globoplay.
Parte da série The New York Times Presents, a produção conta como a Juul foi criada por dois estudantes de mestrado da Universidade de Stanford, na Califórnia, que a princípio afirmavam ter como missão desenvolver um produto que fosse menos nocivo para os consumidores de cigarros tradicionais. Apesar disso, depois das primeiras versões fracassarem por terem uma baixa entrega de nicotina e, portanto, não satisfazerem os fumantes, a empresa buscou estudar métodos de deixar seus produtos mais atrativos – e, portanto, mais viciantes. Como destacado em nota técnica elaborada pela dra. Stella Martins, muitos dispositivos eletrônicos para fumar hoje em dia contêm nicotina em quantidades muito mais altas do que as versões tradicionais.
Além do aumento da quantidade de nicotina, uma das primeiras grandes campanhas de marketing da Juul era muito apelativa para jovens adultos e adolescentes. No documentário, parte da equipe que participou da elaboração das peças publicitárias se mostrou arrependida da direção tomada, mas o estrago estava feito. Em apenas um ano, o uso de cigarros eletrônicos saltou 78% entre os alunos de ensino médio, puxado pelo crescimento da Juul – outras marcas tiveram um desempenho muito inferior ao da startup californiana no período.
Até o final das filmagens, a FDA ainda analisava o pedido de comercialização dos produtos da Juul, que acabou negado agora. Nesse meio tempo, a empresa foi acumulando processos por seu papel no aumento de consumo de produtos de tabaco por jovens e sofrendo respectivas derrotas judiciais. Atualmente, a Altria, controladora da Philip Morris, é dona de parte da Juul. Com a decisão dos Estados Unidos, o futuro da companhia é incerto, mas sem dúvidas sua breve existência já deixou um trágico legado de milhões de jovens viciados em nicotina.