Os efeitos nocivos causados pelo consumo de álcool vêm sendo divulgados de forma cada vez mais contundente, mesmo que ainda sejam publicados artigos que deturpam os achados científicos e tentem associar bebidas alcoólicas a algum benefício ao organismo. Quem nunca ouviu dizer que uma taça de vinho faz bem ao coração, por exemplo? Ou que seria saudável participar de uma corrida de rua e depois beber uma cerveja para hidratar?
Da mesma forma que aconteceu com o cigarro, na década de 80, chegamos a um ponto em que não se pode dissociar o uso de álcool a prejuízos e sofrimento, incluindo mais de 200 doenças e problemas socioeconômicos, como a violência doméstica, acidentes de trânsito e o desemprego. Seu uso destrói vidas e não há nível seguro para seu consumo, alertam as Organizações Mundial e Pan Americana de Saúde e o Instituto Nacional do Câncer. No entanto, ele continua sendo um produto relativamente barato, pouco taxado em comparação a itens essenciais, como alimentos frescos e orgânicos, sendo que para alguns tipos de bebidas há inclusive isenção fiscal. Outro problema é que sua venda ocorre em todos os lugares, há pouca regulamentação de publicidade e comercialização.
Essas questões serviram como base para a nova fase da campanha da Opas, da qual estamos participando em parceria para divulgação. Chamada Viva Melhor, Reaja, traz peças para redes sociais que chamam a atenção para necessidade de políticas públicas mais abrangentes e cobra gestores públicos a proporem, aprovarem e as implementarem.
A Opas desenvolveu uma inteligência artificial, a Pahola, para ajudar pessoas a tomar decisões mais saudáveis em relação ao consumo de álcool e a como ter uma saúde melhor, inclusive dando dicas de como parar. Ela é a primeira inteligência artificial especializada em saúde e uso de álcool, programada com informações e pesquisas recentes sobre o tema.
A Pahola é gratuita e pode ser acessada por meio de um aplicativo online. Ela faz parte da campanha Viva Melhor, Beba Menos, da Opas. Clique aqui para conhecer a Pahola.
Os últimos estudos a respeito dos prejuízos das bebidas foram abordados pelo oncologista Drauzio Varella em sua mais recente coluna na Folha de S. Paulo. O médico, que é referência no país, explicou que a OMS chamou a atenção para o fato de o álcool ser uma substância carcinogênica do Grupo 1, ao qual pertencem asbesto, fumo e radiações. Por isso, casos de câncer de mama em mulheres, fígado, cólon, boca, garganta e esôfago estão relacionados ao consumo de bebidas.
Já a World Heart Federation informa que álcool não faz bem ao coração e que apenas em 2022 ficou claro que seu consumo acelera o envelhecimento dos genes, reduz as dimensões do cérebro e aumenta o risco de doenças cardiovasculares.
A economista e imunologista Monica de Bolle, em sua conta no Twitter, está na mesma linha e vem informando a respeito das reações químicas por trás de um copo, capaz de transformar o álcool em substâncias tóxicas. Uma dessas reações, ela explica, é o acetaldeído, carcinógeno potente. “No mundo todo, é cada vez maior a preocupação em conscientizar a população sobre os riscos, como um dia foi com o cigarro”, escreve.
É com muita informação, sem cair nas armadilhas dos programas de imagem das empresas tratados como sendo de responsabilidade social, que vamos conseguir criar ambientes saudáveis, para que as pessoas encontrem ambientes saudáveis para fazerem escolhas saudáveis. Ou alguém ainda se lembra que era permitido fumar em lugares fechados e até em aviões?