Covitel de 2023 aponta que uso de cigarros eletrônicos não mudou significativamente

Covitel cigarros

Os dados de 2023 do Covitel, Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia, mostrou que, mesmo diante das investidas da indústria, os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) permanecem restritos a um pequeno grupo. O uso atual (ocasional ou diário) do cigarro eletrônico ficou em 2,3% em 2023 (contra 2,5% em 2022) na população total. Entre os jovens adultos observou-se uma queda, pouco expressiva, e ficou em 6,6% contra 9,1% no ano anterior.

É o segundo ano em que o estudo é feito. O Covitel traz informações complementares às pesquisas realizadas pelo IBGE e Ministério da Saúde, Pesquisa Nacional de Saúde e Vigitel, respectivamente. O inquérito é realizado pela Universidade Federal de Pelotas e pela Vital Strategies, com financiamento da associação civil independente Umane, e apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). 

Na análise da coordenadora do Projeto Controle de Tabaco da ACT Promoção da Saúde, Mariana Pinho, o dado reforça a efetividade da Resolução n.º 46/2009 da Agência de Vigilância Sanitária, que proíbe a comercialização, a importação e a propaganda de quaisquer dispositivos eletrônicos para fumar. A norma é discutida desde 2018, mas, em decisão do ano passado, a Anvisa manteve a proibição.

A população jovem adulta continua apresentando os maiores percentuais de consumo (6,6% na faixa etária de 18-24 anos e 4,3%, na de 25-34 anos) em contraponto à população mais velha (0,2%, entre aqueles com idade entre 55 e 64 anos e 0% 65 anos ou mais). 

“Os dados sugerem que o público mais jovem tem sido alvo das ações promocionais e de marketing desses produtos, mesmo sendo proibidos”, comenta Mariana Pinho. Ela observa que isso é ainda mais evidente diante do dado de que muitos usuários foram motivados pela curiosidade/experimentação (20,5%) e outros 11,6% porque está na moda.  Em contraponto, 1,8% e 3,0% usam para não voltar a fumar ou para deixar de fumar o cigarro convencional, respectivamente. 

Aditivos de sabores atraem a experimentação

Outra informação de destaque é o percentual de usuários de cigarros eletrônicos que experimentaram o produto por causa dos sabores. “Esses aditivos são proibidos pela Anvisa (resolução 14/2012), tendo em vista os prejuízos à saúde, são usados como estratégias para atrair jovens, minimizam o desconforto e exacerbam a dependência”, diz. 

A pesquisa também liga o alerta para a acessibilidade desses produtos, sinalizando fragilidades na fiscalização: 43,1% afirmam ter comprado os cigarros eletrônicos em lojas, quiosques ou bares, outros 29,9% na internet e 10,4% em máquinas de vendas.

Outros dados de tabagismo

O percentual de fumantes – aqueles que usam todos os tipos de tabaco fumado, como cigarro convencional, charuto, cachimbo, de palha ou papel – apresentou apenas um leve declínio em relação ao ano anterior, de  12.2% vs 11.83%. 

A região Sul apresenta taxas maiores que a Norte (15,8% vs 9,3%) e o percentual de homens fumantes é maior (15,2%) do que o de mulheres (8,7%). Já a faixa etária com maior índice é a de 45-54 anos (15,2%) e a de menor é a de 65 anos e mais (8,1%). O percentual de fumantes é inversamente proporcional aos anos de estudo: aqueles com 12 anos ou mais de estudo apresentaram menor taxa (7,7%) ao passo que  índice entre aqueles que têm até 8 anos de estudo ficou em 15,5%. O cigarro de papel (cigarro enrolado) ou de palha, cachimbo ou charuto, são mais consumidos por adultos jovens (6,2%).

Em separado, o Covitel analisou indicadores de usuários de narguilé e cigarros eletrônicos. Para narguilé, encontraram um aumento na experimentação, passando de 7,3% para 8,6% entre 2022 e 2023. Os jovens adultos (18-24 anos e 25-34 anos) foram os que apresentaram maiores percentuais de experimentação- 22,5% e 15,7%, respectivamente. A escolaridade parece influenciar inversamente este percentual: 11,5% para aqueles que tem 9-11 anos e 11,9%, 12 ou mais anos de estudo.

Metodologia

Foram entrevistadas por telefone 9.038 pessoas com mais de 18 anos provenientes de capitais e interior do Brasil, no 1º trimestre de 2023. Suas metodologias são diferentes de outras pesquisas que monitoram indicadores de tabagismo e por isso, devemos evitar comparar seus indicadores. No entanto, como é a segunda edição do inquérito telefônico, seus indicadores podem ser comparados entre os anos de 2022 e 2023.

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