O Ministério da Saúde finalmente divulgou os dados – ainda preliminares – do Vigitel 2020. O inquérito telefônico para vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis é realizado com brasileiros com mais de 18 anos e é fundamental para avaliar as políticas públicas contra doenças cardiovasculares e respiratórias, cânceres, diabetes, obesidade e outras.
Diversas instituições de pesquisa e promoção de saúde da sociedade civil aguardavam por esses dados desde maio, quando costuma ocorrer a publicação. Na época, a ACT manifestou preocupação e solicitou ao governo respostas sobre o atraso, como também sobre a coleta de dados para a pesquisa do ano seguinte, de 2021 – ação que o ministério também deu início na segunda semana de setembro.
Na sua 15ª edição, o Vigitel teve uma mudança de metodologia e levantou dados no período de janeiro a abril de 2020 – diferente de como era feito até então, no ano todo Ou seja, com essa limitação, os dados não refletem inteiramente os efeitos da pandemia da Covid-19. O estudo também reduziu pela metade o número de entrevistados e contou com ao menos mil indivíduos em cada cidade. Outra novidade é que a pesquisa deste ano coletou informações sobre escolaridade e faixa etária.
Abaixo, a equipe de especialistas da ACT selecionou alguns dados relacionados ao tabagismo, obesidade, alimentação saudável e consumo de bebidas alcoólicas.
Obesidade, excesso de peso e alimentação não-saudável
A proporção de pessoas com obesidade e excesso de peso continua aumentando, tendência verificada desde 2006. De acordo com o Vigitel 2020, 57,5% da população adulta do Brasil está com excesso de peso (era 55,7% em 2019) e 21,5% da população está com obesidade (era 19,8% em 2019).
Sobre obesidade eu diria que a apresentação e divulgação do relatório na semana de DCNTs mostrou que a tendência de aumento da obesidade se manteve crescente desde 2006. Se olhar o Vigitel não fala de evolução ainda e não sei se isso foi significativo. Melhor colocar assim do que aquela comparação em dois anos, que geralmente não diz muito sobre a evolução de um indicador
A pesquisa também investigou hábitos de consumo de alimentos saudáveis (como frutas, hortaliças e alimentos minimamente processados) – e produtos não-saudáveis (como os ultraprocessados e bebidas açucaradas) que são fatores de risco para doenças crônicas não-transmissíveis. Vamos a eles?
Sobre os produtos não-saudáveis, 15,2% dos adultos brasileiros referiram consumir refrigerantes quase todos os dias (cinco ou mais dias da semana). Frequência que variou bastante entre as capitais, sendo de 3,8% em Natal, e 25,2% em Porto Alegre. E 18,5% dos adultos brasileiros relataram ter consumido cinco ou mais grupos de produtos alimentícios ultraprocessados no dia anterior à pesquisa, frequência um pouco mais alta entre homens (21,3%) do que mulheres (16,1%). O índice também variou muito conforme as capitais: em Porto Alegre, por exemplo, 27,5% das pessoas relataram ter consumido cinco ou mais grupos de produtos ultraprocessados no dia anterior à pesquisa – enquanto em Salvador esta proporção foi de apenas 8,6%. Viva o nordeste!
Por outro lado, a pesquisa também estimou a frequência de consumo de alimentos que indicam alimentação saudável, ou seja, que protegem a população contra as doenças crônicas não transmissíveis. A frequência de consumo regular (cinco dias ou mais, por semana) de frutas e hortaliças foi de 32,7%, sendo maior entre as mulheres (38,2%) do que entre os homens (26,2%). E variou bastante entre os estados: em Rio Branco esse percentual foi de 21,4% e em Florianópolis, de 48,6%. Outro alimento indicador de alimentação saudável é o feijão: 58,3% das pessoas consumiu feijão cinco ou mais dias da semana, frequência que variou entre entre 28,6% em Manaus e 75,8% em Belo Horizonte.
Indicadores de tabagismo permanecem estáveis
A prevalência de brasileiros adultos fumantes ficou em 9,5% em 2020, menor em apenas 0.3 pontos percentuais em relação a 2019 (9,8%) e próximo ao índice de 2018 (9,3%). Segundo o Vigitel 2020, a intensidade de tabagismo diminuiu com o aumento da escolaridade e foi particularmente alta entre homens com até oito anos de estudo (15,1%). Cerca de 7% dos entrevistados são considerados fumantes passivos no ambiente domiciliar e 6,3%, no trabalho, índices semelhantes às pesquisas anteriores. A cidade de Florianópolis foi a que teve a maior frequência de adultos fumantes, com 15,1%, e a de menor índice foi Teresina, com 4,2%.
As informações sugerem que os indicadores permanecem estáveis desde 2018, o que pode representar um freio na tendência de queda nos índices desde 1989. Os índices reforçam a necessidade de avanço nas políticas públicas de controle de tabagismo, em especial as de preços e de impostos. Como exemplo, a tabela de preços mínimos de cigarros não é atualizada desde 2016, a despeito das recomendações da Convenção-Quadro da Organização Mundial da Saúde para a redução de tabagismo.
Saiba como Mais tributos para tabaco salva vidas e melhora a economia.
Consumo prejudicial de bebidas alcoólicas
De acordo com o Vigitel 2020, um a cada 5 brasileiros ou 20,9% dos entrevistados consumiram quatro ou mais doses de bebidas alcoólicas em uma mesma ocasião nos últimos 30 dias antes da pesquisa. Ao contrário do tabaco, a frequência de consumo abusivo de álcool aumenta conforme a escolaridade. O diagnóstico foi ainda mais preocupante entre os mais jovens: foi observado consumo nocivo dos produtos em um quarto (25%) dos entrevistados entre 18 e 25 anos.
O uso prejudicial desta substância, que causa dependência, tem sido comprovadamente relacionado a casos doenças, lesões, acidentes, violência e mortalidade, tanto para a pessoa que consome quanto para aqueles em volta dela e de toda a sociedade. Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que o Brasil está acima da média mundial de consumo.
por Emily Azarias e Rosa Maria Mattos
Bom dia,
Gostaria de saber se tem alguma pesquisa sobre doenças crônicas não transmissíveis, obesidade, etc. para com pessoas idosas, ou indivíduos de 60 anos e mais.