Um artigo publicado no periódico Tobacco Control avaliou as estratégias usadas pela indústria do tabaco para promover cigarros em pontos de venda próximos a escolas e parquinhos em 42 países. Os achados mostram que as empresas se aproveitam de táticas de marketing e posicionamento estratégico de seus produtos para torná-los mais atraentes e chamar a atenção de crianças e adolescentes em todo o mundo.
A publicidade em pontos de venda de cigarros é bastante utilizada pela indústria – especialmente porque, embora vários países proíbam anúncios em meios como a televisão, o rádio e a internet, poucos são os que vedam totalmente a propaganda em pontos de venda. A exibição dos produtos de tabaco por si só já é uma forma de publicidade, que foi potencializada pela indústria ao ser combinada com os seguintes métodos identificados no artigo:
- Exibir os cigarros perto de doces e refrigerantes
Segundo os autores, “a presença de produtos de tabaco perto desses alimentos e bebidas faz com que seja difícil que as crianças procurem e comprem esses itens nos pontos de venda sem serem expostas à publicidade de tabaco”. O artigo também destaca que essa proximidade pode contribuir para que haja uma menor percepção dos riscos associados ao fumo.
- Colocar os produtos ao nível dos olhos das crianças
Os autores destacam que fabricantes de cigarros sabem que colocar os produtos ao nível dos olhos promove a compra.
- Anunciar e exibir cigarros saborizados
Muitos dos sabores utilizados nos cigarros e outros produtos de tabaco são extremamente apelativos para crianças e adolescentes (incluindo sabores doces, de frutas e de menta). Além disso, as embalagens utilizadas em produtos saborizados costumam ser bastante chamativas, coloridas e facilmente confundidas com embalagens de balas e chicletes.
- Vender cigarros avulsos
Em 78% dos países avaliados, foi identificada a venda de cigarros avulsos. Isso é um problema grave porque o valor mais baixo cobrado por cigarros avulsos torna-os especialmente mais acessíveis para crianças e jovens, que costumam ter menos dinheiro disponível. Além disso, vendê-los fora dos maços faz com que as advertências sanitárias presentes nas embalagens não sejam vistas.
- Uso de telas e painéis luminosos
Painéis com luzes e telas atraem a atenção dos consumidores e também podem ser vistos a uma distância maior – inclusive de fora da loja. Como os pontos de venda avaliados ficavam próximos de escolas e parques, isso é especialmente preocupante, já que indica que as crianças que frequentam esses espaços podem acabar expostas à publicidade de produtos de tabaco sem nem entrar no ponto de venda.
Consequências e possíveis soluções
Os autores destacam que “crianças e jovens que são frequentemente expostos à promoção e publicidade de tabaco nos pontos de venda têm maiores chances de já terem experimentado cigarros e de serem suscetíveis ao fumo do que os que não são expostos.”
O fato de estratégias semelhantes terem sido encontradas em países de diversas regiões do mundo mostram que a indústria usa sistematicamente os mesmos métodos para tentar promover seus produtos em pontos de venda – o que entra em oposição a alegações já feitas pelas empresas, que afirmam que não fazem publicidade voltada a jovens.
Para coibir essas táticas e assegurar mais proteção para crianças e adolescentes, é preciso que mais países adotem (e fiscalizem) medidas como a proibição total da propaganda, incluindo a exibição dos produtos nos pontos de venda. Em países que já aplicam essa medida, os cigarros ficam guardados em espaços fechados aos quais o público não tem acesso, como armários ou gavetas. No Brasil, já existe um projeto de lei que prevê essa medida, junto com outras políticas essenciais para o controle do tabaco, mas ele encontra-se parado na Câmara dos Deputados. Quanto mais tempo levamos para aplicar essa medida, mais os nossos jovens ficam expostos aos malefícios do consumo de cigarros e outros produtos de tabaco.