Os malefícios causados pelos cigarros no corpo humano já são bem conhecidos e documentados. No entanto, o surgimento dos vapes e outros dispositivos eletrônicos para fumar tornou clara a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre os impactos causados exclusivamente pela nicotina no corpo, já que ela pode estar presente em grandes quantidades nesses produtos. A substância é bastante reconhecida por causar dependência, mas os outros impactos que ela traz para a saúde costumam ser subestimados.
Pensando nisso, a ACT e a doutora Stella Regina Martins fizeram uma parceria que resultou na nota técnica “Nicotina: o que sabemos?”. Nela, a doutora Stella realizou uma revisão de literatura que mostra que a substância causa muitos outros efeitos adversos, além da dependência. Confira a lista abaixo:
Sistema cardiovascular:
- Aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial.
- Está associada a isquemia e infarto.
Sistema Endócrino:
- Pode contribuir para resistência à insulina.
Sistema Reprodutor:
- Em homens, pode causar infertilidade, disfunção erétil e impotência.
- Em mulheres, causa redução dos níveis de estrogênio circulantes, altera a periodicidade normal do ciclo menstrual e pode causar menopausa precoce.
Gestação e lactação:
- Favorece a gravidez ectópica (fora do útero).
- A exposição intrauterina à nicotina possivelmente afeta as células do ouvido do bebê, ocasionando baixo desempenho nas atividades que dependem das aptidões verbais.
- Pode diminuir a circulação sanguínea na placenta, levando à ausência de oxigênio e acúmulo de ácido na corrente sanguínea do feto.
- Durante a lactação, a nicotina é eliminada no leite materno, podendo passar para o bebê.
Cérebro:
- A exposição precoce à nicotina pode perturbar o curso normal de maturação do cérebro e ter consequências duradouras para a capacidade cognitiva e saúde mental.
- A nicotina é fator de risco para eventos cerebrais isquêmicos em mulheres, o que é ainda mais potencializado com a associação com anticoncepcionais orais.
Tromboangeíte obliterante:
- Favorece o desenvolvimento de doença inflamatória que acomete as artérias e atinge as extremidades dos membros superiores e inferiores, podendo levar à amputação.
Úlcera péptica:
- Suprime a capacidade de restituição e regeneração das células do epitélio do estômago.
Osteoporose:
- A nicotina é um fator de risco para a osteoporose em mulheres.
Olhos:
- Estimula a criação de vasos sanguíneos na retina, causando a degeneração macular relacionada à idade.
Dislipidemia:
- Aumenta a gordura no sangue, o que contribui para o surgimento de doença vascular.
Câncer:
- Evidências sugerem que a nicotina pode promover metástases.
- Mais estudos são necessários para avaliar possíveis efeitos da nicotina no surgimento do câncer.
Doença da Folha Verde do Tabaco:
- Acomete agricultores que trabalham com o cultivo do tabaco, em especial durante a fase da colheita, pela absorção de nicotina presente na folha de fumo. Os principais sintomas são náuseas, vômitos, tontura, fraqueza e cefaleia. Nas intoxicações graves, pode causar convulsões e depressão respiratória, que pode culminar com parada respiratória e morte.
A nota ainda menciona que vários dos novos produtos de tabaco, os cigarros eletrônicos e o tabaco aquecido, contêm ainda mais nicotina do que os cigarros convencionais, o que pode torná-los mais viciantes e potencializar o surgimento dos efeitos da lista acima.
O comércio e a venda desses dispositivos são proibidos no Brasil, mas a Anvisa está sendo pressionada pela indústria do tabaco a rever a norma atual, apesar de várias organizações da saúde já terem se manifestado a favor da proibição. Os cigarros eletrônicos são uma porta de entrada para que mais jovens comecem a fumar e sofrer com o vício e os problemas de saúde causados pela nicotina, então precisamos garantir que a norma vigente seja mantida.