A descoberta de um câncer de pele alojado no osso do maxilar e palato mole em 2011 foi decisiva para que a professora Ema Verônica Zabendzala parasse de fumar. “Mesmo sabendo que essa doença não era causada diretamente pelo cigarro, obviamente, o tabaco ajudou a proliferar o tumor mais rápido. Sempre ouvi sobre os malefícios dele ao organismo, mas foi necessário aparecer um câncer na boca para que eu conscientizasse”, relata.
Junto com o álcool, especialistas alertam que o tabaco (que inclui todos os tipos de cigarros, charutos e cachimbos) pode aumentar em 19 vezes o risco de doenças na região da cabeça e do pescoço. São tumores que se originam principalmente na boca, na língua, nas gengivas, nas bochechas, na tireoide, nos seios da face, nas amígdalas, na faringe, na laringe ou em outras estruturas anatômicas da região.
Apesar de pouco falado, esse tipo de câncer representa um número significativo dos diagnósticos de câncer. A cada ano, são registrados 40 mil novos casos, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Afastar-se dos fatores de risco e o diagnóstico precoce são os principais aliados para reduzir as possibilidades de sequelas e aumentar as chances de cura. É em prol disso que a Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço (ABGC) lidera a campanha #JulhoVerde pelo quinto ano consecutivo.
Uma vida mais saudável tem menos riscos
Hábitos saudáveis – como uma alimentação rica em frutas, verduras e legumes, atividade física regular e redução do estresse – são fundamentais para a prevenção de doenças. Entre as principais condições que propiciam o desenvolvimento de tumores na cabeça e no pescoço, além do consumo de álcool e de tabaco, estão a prática de sexo oral sem camisinha, a má higiene bucal e a exposição excessiva ao sol.
A ABGC Brasil ainda alerta sobre outros fatores de risco, como: a exposição de produtos maléficos à saúde, especialmente no trabalho (poeira de madeira, de têxteis, pó de níquel, colas, agrotóxicos, amianto, sílica, benzeno, produtos radioativos); o consumo excessivo de bebidas quentes (principalmente as tradicionalmente servidas em temperaturas muito altas, como o chimarrão/mate); e infecções pelos vírus do papiloma humano (HPV), transmitido inclusive através de sexo oral desprotegido, e o de Epstein-Barr (EBV), que é transmitido principalmente pela saliva de pessoas contaminadas.
Atenção aos sinais
A presidente voluntária da ABGC, Melissa Medeiros, conta que teve tumor na laringe e passou por um longo e doloroso tratamento. Ela ficou bem, mas perdeu a voz natural para sempre. Hoje, ela e seu filho, Gabriel Marmentini, atuam no acolhimento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço e na promoção de melhores políticas públicas de saúde.
“Até 2022, cerca de 45 mil pessoas no país podem perder parte de suas faces por causa do câncer na cavidade oral. Em média, 22.950 brasileiros correm o risco de perder a voz em consequência de um câncer de laringe. Precisamos agir!” alerta a ativista. De acordo com a organização, a cada quatro novos casos, três chegam em estágio avançado, resultando no óbito de cerca de metade das vítimas da doença.
Com o slogan “O câncer tá na cara, mas às vezes você não vê” na mobilização de 2021, a associação orienta procurar um médico ou um dentista caso sejam identificados um ou mais dos sintomas e sinais abaixo listados, durando por duas semanas ou mais:
- Ferida no rosto/boca que não cicatriza;
- Mancha avermelhada ou esbranquiçada na boca;
- Dentes moles ou dor em torno deles;
- Mudança na voz ou rouquidão persistente;
- Dificuldade/dor para mastigar ou engolir;
- Caroço no pescoço;
- Irritação ou dor na garganta; e
- Mau hálito frequente.
A ACT é parceira e apoia essa mobilização. Compartilhe também!