Não contém spoiler porque a história é velha. Pelo menos, parte dela. No que depender da indústria de bebidas alcóolicas, esse ano foi exatamente igual aquele que passou. Gente de bem disputando vaga em Camarote de cervejaria, lançamento de latões e garrafinhas, ações de degustação em supermercados e blocos etc.
A novidade esteve no crescente movimento de quem se levanta contra a onda de que sem álcool não existe folia. Pelo contrário, a quem garanta que a sobriedade deixa a programação ainda mais interessante. Ou, no mínimo, mais longa. Em entrevista ao jornal O Globo, a criadora de conteúdo Nyle Ferrari conta o que descobriu depois de seis carnavais sem álcool: “meu corpo fica muito mais apto à festa. Com mais energia para aproveitar o dia seguinte.
Na mesma reportagem, o psiquiatra Ricardo Patitucci explica o que acontece do ponto de vista da fisiologia. “O indivíduo curte com muito mais qualidade, porque não vai sofrer com desidratação e outros problemas a curto prazo, como piora da coordenação motora e reflexo.” As consequências “a curto prazo” apontadas pelo médico impactam dramaticamente nos números de atendimentos ambulatoriais, internações, acidentes de trânsito, violência doméstica, sexo sem proteção, e homicídios.
Não pretendemos jogar água na animação de ninguém. Mudanças pessoais contam. Mas aqui na ACT nos preocupamos em apoiar os indivíduos a fazer escolhas mais saudáveis diante do assédio da indústria que lucra com o adoecimento e a morte da população. Defendemos políticas públicas para desestimular o consumo e financiar o sistema de saúde.
Neste ano, o Carnaval coincidiu com a retomada das discussões sobre a regulação do imposto seletivo para produtos que fazem mal à saúde, aprovado no fim do ano passado no Congresso. Uma medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde e pelo Banco Mundial para reduzir o consumo e financiar o sistema de saúde.
É o momento, portanto, de não deixar os políticos em Brasília se esquecerem que, segundo o Datafolha, 71% da população apoiam a instituição de tributos mais altos para bebidas alcóolicas.
Seja nos dias de festa ou não, quem se interessa em observar o comportamento da sociedade nota a redução da prevalência de álcool. Recentemente, na Folha de São Paulo, o colunista Ronaldo Lemos apresentou uma pesquisa da consultoria londrina Kam sobre o assunto. O estudo aponta uma tendência e revela que 5,2 milhões de pessoas admitem estar bebendo menos do que há dois anos.
Aqui no Brasil, o sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) revela que 56% da população adulta não tem hábito de ingerir álcool.
Por Angélica Brum
Muito boa a matéria, Angélica. Parabéns!!!