“Jogar plástico em mares e rios é uma atitude criminosa – e precisa ser interrompida se a humanidade quiser salvar o planeta para as próximas gerações”. Essa frase contundente não foi dita pela ativista Greta Thunberg ou por nenhum diretor de ONG de meio ambiente, mas pelo Papa Francisco, em uma recente entrevista ao canal de TV italiano RAI.
Essa não é a primeira demonstração de preocupação por parte do Papa e da Igreja Católica com a conservação do meio ambiente, e consequentemente, com a poluição por plásticos. De acordo com o site oficial Vatican News, na encíclica “Laudato si“, o Papa Francisco destaca que “a educação para a responsabilidade ambiental pode encorajar vários comportamentos que têm um impacto direto e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico ou papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar somente o que pode ser razoavelmente comido, tratar outros seres vivos com cuidado, usar o transporte público ou compartilhar o mesmo veículo entre várias pessoas, plantar árvores, apagar luzes desnecessárias, e assim por diante. Tudo isso faz parte de uma criatividade generosa e digna que mostra o melhor do ser humano”.
O papel das corporações
E será que o Papa Francisco estava falando apenas com seus fiéis ou com os acionistas das empresas que lucram com a produção desenfreada de plástico? Para além de influenciar atitudes individuais, organizações da sociedade civil vem dando “nome aos bois”, ou seja, investigando e sistematizando informações a respeito de quem produz o plástico, com o objetivo de responsabilizá-las, e cobrar políticas públicas dos Estados. É o caso da coligação internacional Break Free From Plastic, que pelo quarto ano consecutivo, lançou um relatório mostrando as campeãs da poluição do plástico em 2021: mais uma vez a Coca-Cola, seguida da Pepsico, são as corporações que mais poluem o meio ambiente com plástico. Grandes indústrias de produtos ultraprocessados como Nestlé, Mondelez, Danone e Mars também estão nesse ranking vergonhoso e perigoso para o planeta. Além de fazer mal à saúde, fazem mal ao meio ambiente, nenhuma novidade.
E qual foi a metodologia utilizada pelo levantamento? Graças aos 11.184 voluntários de 45 países, foram realizadas 440 auditorias de marca em seis continentes. É uma iniciativa que envolve a contagem e documentação das marcas encontradas nos resíduos de plástico para ajudar a identificar as empresas responsáveis pela poluição plástica.
“Não importa o quanto nós tentemos evitar comprar plástico e não importa o quanto nós reciclemos, nunca será o suficiente. A quantidade de combustíveis fósseis extraídos para que as empresas fabriquem mais embalagens plásticas sempre prejudicará nossos esforços individuais. Para solucionar de verdade o problema do plástico, em primeiro lugar é preciso que essas companhias interrompam a enorme produção de plástico desnecessário e para uso único, as corporações precisam avançar para soluções reais que eliminem completamente a necessidade de embalagens plásticas”, afirma o texto do Break Free from Plastic.
Cigarro: um problema da produção ao descarte
Nesta questão, chama a atenção, também, a poluição causada pelos filtros de cigarros, as chamadas guimbas ou bitucas. O problema é tão sério que o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas firmou uma parceria recentemente com a Convenção Quadro para o Controle do Tabaco, o tratado internacional de saúde da Organização Mundial da Saúde. A ideia é aumentar a conscientização sobre a questão por meio de influenciadores digitais, embaixadores das Nações Unidas e jovens do projeto Campeões da Terra em torno do tema, com a experiência adquirida pela Convenção Quadro.
De acordo com o programa, a cada ano a indústria do tabaco produz seis trilhões de cigarros, consumidos por um bilhão de fumantes, em todo o planeta. Esses cigarros contêm componentes de microplásticos, como fibras de acetato que, quando descartadas de forma imprópria, liberam metais pesados e várias outras substâncias químicas, impactando ecossistemas e a saúde.
Os filtros são os dejetos mais descartados globalmente, somando aproximadamente 766.6 milhões de quilos de lixo tóxico, a cada ano. São considerados os resíduos plásticos mais comumente encontrados nas praias, fazendo com que o ecossistema marinho seja o mais suscetível. Quando ingerido, as partículas químicas presentes nos microplásticos causam mortalidade a longo prazo na vida marinha, incluindo pássaros, peixes, mamíferos, répteis e plantas. Estes microplásticos passam a fazer parte da cadeia alimentar e estão associados a sérios impactos na saúde humana, que incluem mudanças genéticas, desenvolvimento cerebral e taxas de respiração, entre outras.Notícias do Oscar