Faltam menos de oito anos para 2030, mas muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas vêm sofrendo retrocessos no Brasil e no mundo. No entanto, segundo um artigo publicado no periódico The Lancet, a meta 3.4 (reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis, as DCNTs, via prevenção e tratamento) ainda pode ser atingida (ou, pelo menos, avançar muito) em quase todos os países até o final desta década.
Para fazer isso, os autores elaboraram uma lista de medidas a serem tomadas o mais brevemente possível, incluindo intervenções clínicas para tratamento de doenças já estabelecidas e, principalmente, políticas públicas intersetoriais para a prevenção de novos casos. A publicação destaca que, embora seja difícil elaborar uma estratégia global, já que existem muitos fatores que variam entre os países, políticas para reduzir o tabagismo, o uso abusivo de álcool e a alimentação inadequada são essenciais para todos.
As medidas intersetoriais listadas pelos autores são a tributação e a regulação de álcool e tabaco, diretrizes para redução do consumo de sódio e a proibição da gordura trans. É destacado que a tributação de tabaco é comprovadamente muito eficaz, mas não está sendo aplicada de maneira suficiente em boa parte dos países, onde a acessibilidade dos cigarros está estagnada ou aumentou – e este é justamente o caso do Brasil, em que a política de preços e impostos de tabaco não recebe reajuste desde 2016. Apesar de não ser citada no artigo, a tributação de refrigerantes e outras bebidas açucaradas também vem trazendo bons resultados nos países que a implementaram e deveria, portanto, ser considerada também no contexto dos ODS.
De todo modo, outra consideração importante do artigo é que medidas como essas costumam enfrentar uma forte oposição das indústrias que fabricam os produtos em questão, por razões óbvias. Assim, para implementá-las é necessário muita vontade política e apoio da sociedade civil, mas o esforço vale a pena: segundo os autores, “a implementação completa dessas seis políticas intersetoriais, mesmo sem o aumento das intervenções clínicas, poderia reduzir em 24% a chance de morte por DCNTs em pessoas com idade entre 30 e 70 anos em todo o mundo.” E vai além: “no entanto, se essas medidas não forem implementadas, seria necessário gastar 38 bilhões de dólares adicionais por ano em intervenções clínicas para atingirmos uma redução de mortalidade semelhante”.
Por fim, é bom lembrar que mesmo que alguns países não conseguissem atingir a meta 3.4 da Agenda 2030 por completo, certamente essas medidas trariam melhorias significativas, especialmente a longo prazo. Conforme destacam os autores no final da publicação, “a agenda das DCNTs é parte integral do desenvolvimento sustentável. Investimentos na prevenção e tratamento de DCNTs são investimentos nos sistemas de saúde do futuro e podem trazer grandes resultados durante o período dos ODS e depois”.