Mesmo conhecendo os riscos, mais da metade dos estudantes de medicina brasileiros já experimentaram produtos de tabaco, concluiu o estudo Prevalência de experimentação e uso atual de narguilé e cigarros eletrônicos e os fatores associados entre estudantes de medicina: estudo multicêntrico no Brasil, publicado recentemente no Jornal Brasileiro de Pneumologia. A pesquisa foi realizada virtualmente com 700 estudantes de quatro regiões brasileiras.
Mais de 90% dos entrevistados afirmarem que aprenderam sobre os malefícios do tabagismo para a saúde durante as aulas da faculdade. Ainda assim, 39,1% já haviam experimentado cigarros convencionais, 42,6% já usaram narguilé e 13,1% já experimentaram cigarros eletrônicos – e 7,9%, 11,4% e 2,3%, respectivamente, continuavam a usar esses produtos até o momento da pesquisa. No total, 51,4% dos entrevistados afirmaram já ter experimentado ao menos um desses produtos. Outro ponto interessante foi que a maior parte dos que usavam cigarros eletrônicos também afirmaram usar narguilé e/ou cigarros convencionais. Mais dados estão disponíveis na tabela:
Esses números alarmantes levantam o questionamento de por que esses estudantes estão experimentando produtos de tabaco, mesmo cientes dos riscos. Uma das possibilidades, corroborada por outras perguntas realizadas na pesquisa, é que a convivência com outras pessoas que fumam, especialmente amigos e familiares, pode incentivar a experimentação. Veja nos dados a seguir:
- A experimentação de narguilé foi mais de duas vezes maior para aqueles que tinham irmãos, amigos ou pais fumantes;
- entre os usuários de narguilé, 86,9% relataram compartilhar a piteira com outros usuários;
- a experimentação de cigarros eletrônicos também foi mais de duas vezes maior para aqueles que tinham irmãos ou amigos fumantes;
- o uso atual de cigarros e narguilé em relação ao gênero e a ter amigos, pais ou irmãos fumantes mostra um padrão semelhante ao observado em relação à experimentação.
Na discussão dos resultados, os autores afirmam que “um dos principais achados deste estudo foi como irmãos, amigos ou pais fumantes influenciaram nossa amostra de estudantes de medicina na experimentação de cigarros, narguilé ou cigarros eletrônicos.” A associação entre a experimentação e a convivência com outros fumantes já era conhecida, mas esse estudo mostra que esse fator social prevalece até mesmo quando o usuário tem conhecimento dos malefícios do tabagismo.
Entre os autores do estudo, incluem-se Stella Regina Martins, autora da nota técnica Nicotina: o que sabemos?, em parceria com a ACT, e Alberto José de Araújo, membro fundador da ACT, que nos deixou em setembro de 2021. A ele, novamente, nosso respeito e homenagem.