Em 2021, a qualidade da água do Rio de Janeiro virou manchete nacional devido aos diversos relatos de moradores que notaram que a água estava saindo escura e com cheiro ruim de suas torneiras. Apesar de os vídeos e fotos terem chocado o Brasil, a cidade não é a única a enfrentar problemas com o saneamento básico: outros 763 municípios tiveram água imprópria entre 2018 e 2020.
Dados inéditos, revelados pela Repórter Brasil, mostram que substâncias químicas e radioativas foram encontradas acima do limite em 1 de cada 4 municípios que fizeram os testes. O mais problemático foram os subprodutos da desinfecção, gerados a partir do processo de tratamento da água, que aparecem acima do limite em 493 municípios em todo o país.
As informações podem ser consultadas por cidade no Mapa da Água, que destaca quais substâncias extrapolaram o limite e explica seus riscos. Os dados são resultados de testes feitos por empresas ou órgãos de abastecimento e enviados ao Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), do Ministério da Saúde. As análises são feitas após o tratamento e a maioria dessas substâncias não pode ser removida por filtros ou fervendo a água.
Os impactos das substâncias analisadas são silenciosos e podem levar anos para aparecer. Entretanto, quando aparecem, é na forma de doenças graves. Estudos realizados por órgãos de saúde respeitados, como Organização Mundial da Saúde (OMS) e as agências regulatórias da União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Austrália, associam esses produtos ao câncer, mutações genéticas e diversos outros problemas de saúde.
Os responsáveis pelo saneamento precisam realizar testes, no máximo a cada 6 meses, na água para saber se alguma substância pode estar fazendo mal à população. A frequência e limite máximo permitido são determinados por meio de uma Portaria do Ministério da Saúde, contudo muitas ainda não fazem o controle de sua água e ninguém questiona.
Segundo o levantamento, em quase metade dos municípios (48%) as companhias de abastecimento não informaram resultados ao Sisagua. E isso é grave. População inteiras podem estar sendo expostas diariamente a substâncias cancerígenas.
O problema da água não foi identificado em 2021 com o Rio de Janeiro. Ele, na verdade, nunca teve uma solução efetiva. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento mostram que 21% dos brasileiros não têm acesso à água e que apenas metade do esgoto gerado é tratado. Especialistas afirmam que não há como superar esse problema sem políticas públicas.
Em 2015, o Brasil e outros 192 países se comprometeram a cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, a fim de elevar o desenvolvimento do mundo e melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas. Dentre as 17 metas está a de água limpa e saneamento, ou seja, acesso universal à água potável, ao saneamento e à higiene, além de melhoria da qualidade da água e a eficiência do uso, com gestão integrada de recursos hídricos.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a situação piorou no País após a pandemia. Em 2021, retrocedeu em 54% das metas estabelecidas e não avançou de forma satisfatória em nenhuma das 169 pactuadas.
Já passou da hora do governo brasileiro agir para garantir mais qualidade de vida, alimentar e sanitária para a população.
Hélen Freitas