Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou o relatório Invisible numbers: the true extent of noncommunicable diseases and what to do about them (em tradução livre, “Números invisíveis: a verdadeira extensão das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) e como lidar com elas) e uma página dedicada à prevalência de DCNTs e dados sobre os principais fatores de risco em vários países do mundo.
A página e o relatório destacam que as DCNTs são uma enorme ameaça para a saúde global – causando uma morte prematura a cada dois segundos -, mas que há maneiras de evitar ou adiar muitos casos, salvando vidas e economizando recursos. Isso é especialmente importante em países de renda média ou baixa, já que 86% das mortes prematuras acontecem neles. Já está comprovado que a melhor forma de prevenir as DCNTs é por meio de políticas públicas para enfrentar os principais fatores de risco (tabagismo, alimentação inadequada, sedentarismo, consumo de álcool e poluição do ar), mas muitos países do mundo ainda não reconhecem a importância do tema.
Além disso, o relatório também afirma que muitas vezes as DCNTs são vistas como problemas individuais, já que as pessoas seriam responsáveis por tomar decisões (como fumar ou consumir álcool) que acabariam causando uma (ou mais) DCNT. No entanto, como a publicação mostra, isso não é tão simples assim:
“Fazer o que é certo para a saúde não depende apenas das nossas escolhas individuais, do nosso desejo de nos manter saudáveis ou do conhecimento sobre o que faz bem para nós. Nosso comportamento é muito influenciado por fatores sociais, culturais e ambientais (onde moramos, estudamos, trabalhamos e brincamos) e fatores comerciais (o impacto do trabalho, do comércio e da indústria no cotidiano). Vezes demais o ambiente em que estamos limita nossas escolhas, dificultando ou impossibilitando as escolhas saudáveis. Alimentos adequados podem ser muito caros ou não estar disponíveis. Muitas estradas são perigosas para pedestres e ciclistas. Áreas para brincadeiras, caminhadas e outras atividades físicas podem ser escassas, pouco atrativas e perigosas. Além disso, também existem influências externas. O marketing de alimentos não saudáveis, álcool e, em muitos países, tabaco está em todo lugar, e as indústrias que os produzem miram em grupos populacionais vulneráveis, como crianças e jovens.“
Como lidar com as DCNTs
Apesar de muitos países ainda subestimarem a importância da prevenção das DCNTs, investimentos relativamente baixos já poderiam fazer uma grande diferença. O relatório da OMS destaca que um investimento de 18 bilhões de dólares por ano em todos os países de renda média e baixa traria benefícios econômicos da ordem de 2,7 trilhões de dólares.
Para isso, no entanto, é preciso que os países entendam as DCNTs como uma prioridade absoluta de saúde pública e apliquem políticas preventivas comprovadamente eficazes, incluindo:
– Tributação de produtos não saudáveis;
– Restrição ou proibição da propaganda de produtos não saudáveis;
– Promoção de ambientes saudáveis;
– Uso de rotulagem adequada e advertências sanitárias, como feito com os cigarros, em outros produtos não saudáveis.
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável inclui em suas metas a redução da mortalidade por DCNTs em um terço até 2030, mas infelizmente esse objetivo não será atingido a menos que as DCNTs de fato entrem na agenda pública dos países de renda média e baixa, incluindo o Brasil. Investir na prevenção de DCNTs salva vidas, reduz a pobreza e traz retornos financeiros. Já passou da hora de darmos a devida atenção a esse tema.