Um estudo recente, Ocorrência da doença da folha verde do tabaco e fatores associados entre fumicultores no Município de Dom Feliciano, Rio Grande do Sul, Região Sul do Brasil, publicado em agosto de 2020, avaliou a ocorrência da chamada “doença da folha verde” (DFV) em agricultores que produzem tabaco em Dom Feliciano, cidade do Rio Grande do Sul. A DFV é causada pela absorção da nicotina pela pele, especialmente durante o manuseio das folhas de tabaco, e pode resultar em dores de cabeça, náuseas, fraqueza, dores abdominais e outros sintomas.
354 produtores de tabaco participaram do estudo e a DFV foi identificada em 122 deles (34,5%), sendo que a prevalência foi de 37% em homens e 31% em mulheres. Além disso, foi possível perceber uma associação da doença com fatores como exposição ao sol (por períodos de sete a oito horas ou mais de oito horas) e uso de pesticidas. Durante o estudo, foi medida a contração urinária de cotinina, biomarcador da exposição à nicotina que foi considerado significativo na identificação de casos de DFV.
Na conclusão do artigo é feito o seguinte destaque:
A posição do Brasil com relação à produção e exportação de tabaco e os malefícios à saúde causados pela exposição à nicotina, bem como o uso intensivo de pesticidas e outros fatores de risco típicos da produção de tabaco (como exaustão e dependência da indústria do tabaco), evidenciam a importância deste tema para a saúde pública e a necessidade de implementar medidas para prevenir os danos causados a esses trabalhadores, conforme os Artigos 17 e 18 da CQCT-OMS, que definem alternativas de cultivo como uma maneira de proteger a saúde e o ambiente desses efeitos negativos.
Além da DFV, casos de depressão e outras alterações neurocomportamentais também atingem produtores de tabaco. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, “estudos têm apontado que, entre os fumicultores, há um maior risco de desenvolver alterações neurocomportamentais capazes de evoluir para quadros de depressão e suicídio. Resultados do estudo apresentado por Falk et al (1996), mostraram que no município de Venâncio Aires, RS, um dos maiores produtores de tabaco no Brasil, os coeficientes de mortalidade por suicídios foram maiores do que todo o estado do RS e cerca de 80% dos suicídios ocorrem em agricultores.”
Estamos no Setembro Amarelo e é muito importante falarmos sobre a saúde mental e física dos produtores de tabaco. O programa brasileiro de diversificação de cultivo de tabaco vem perdendo espaço continuamente – precisamos reverter esse quadro.