As indústrias de bebidas adoram promover refrigerantes sem açúcar ou dietéticos como “saudáveis”, mas, será mesmo? Há alguns anos, pesquisadores vêm investigando os adoçantes (ou edulcorantes) utilizados em refrigerantes e outras bebidas ultraprocessadas adoçadas – e seu efeito negativo no corpo humano. São pesquisas muito complexas: como demonstrar o efeito de apenas uma substância química, de modo isolado, em uma dieta que é complexa e cheia de outras variáveis? Qual a quantidade de consumo dessa substância pode levar ao adoecimento? Perguntas para as quais não existem, ainda, respostas absolutas e definitivas. E vale lembrar que o Guia Alimentar para a População Brasileira preconiza: refrigerantes e outras bebidas industrializadas, mesmo zero ou diet, são ultraprocessadas e devem ser evitadas.
Questionamentos vêm sendo levantados em relação aos efeitos metabólicos dos edulcorantes que são utilizados como substitutos do açúcar. No último mês, dois estudos foram divulgados nos meios de comunicação e você, talvez, tenha visto alguma dessas manchetes:
“Adoçantes artificiais aumentam as chances de câncer”
Esse estudo é bem importante, foi publicado na revista Plos Medicine em março de 2022, e acompanhou mais de 100 mil adultos franceses por cerca de oito anos para avaliar o efeito de consumir edulcorantes de alimentos e bebidas ultraprocessados e o risco de desenvolver alguns tipos de câncer. Veja só um trechinho da conclusão: “Os resultados deste estudo de coorte populacional em larga escala sugerem uma associação positiva entre maior ingestão de edulcorantes artificiais (especialmente aspartame e acessulfame-K) e risco geral de câncer. Mais especificamente, a ingestão de aspartame foi associada ao aumento de cânceres de mama e relacionados à obesidade”. Você pode conferir o artigo completo, em inglês, aqui.
“Refrigerante zero faz mal para o fígado”
Esse segundo estudo, e que talvez tenha bombado ainda mais na internet, teve como manchete: “Saiba como o refrigerante ‘zero’ pode prejudicar a desintoxicação do fígado”. A pesquisa foi apresentada durante a reunião anual da Sociedade Americana de Bioquímica e Biologia Molecular, e é um estudo experimental que investigou, in vitro, a interação dos adoçantes e células vivas do fígado, mais especificamente, a interação desses adoçantes com proteínas. Apesar de ser in vitro, as pesquisas básicas como essa são muito importantes, e a partir delas podem ser realizadas pesquisas mais complexas, com animais, e, em seguida, estudos com seres humanos. O resumo oficial desse estudo, apresentado no encontro científico, ainda não foi sequer divulgado, mas você pode saber mais em uma divulgação à imprensa feita pela equipe de pesquisadores, clique aqui.
Adoçantes estão presentes em 15% dos alimentos ultraprocessados
Um terceiro e último estudo foi publicado no fim do ano passado na revista científica Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics. A pesquisa, que foi realizada por pesquisadores brasileiros, do Nupens/USP, mostrou que edulcorantes de baixa caloria estão presentes em 15% dos alimentos e bebidas ultraprocessados no Brasil, são utilizados em combinação com açúcares de adição, e encontrados em alimentos e bebidas com publicidade para crianças. Ou seja, os edulcorantes não são usados apenas para substituir o açúcar. O artigo concluiu que informações na frente da embalagem, mais claras, sobre a presença de edulcorantes, em particular em produtos para crianças, podem ajudar os consumidores a fazer escolhas mais informadas sobre o consumo dessas substâncias. Você pode acessar o artigo na íntegra, aqui.
Refrigerantes diet ou zero devem ser evitados!
A ACT Promoção da Saúde defende políticas públicas que previnam doenças, como por exemplo a tributação tanto das bebidas ultraprocessadas, tanto as açucaradas como as dietéticas. Mudanças individuais podem ser eficazes para prevenir doenças – mas precisamos de mudanças sociais e coletivas, pelo bem e pela saúde de todos e todas.