Um importante artigo escrito por pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (INCA) foi publicado agora no dia 11 de março na revista internacional PLoS One, e contribui com dados inéditos a respeito dos impactos do excesso de peso no Brasil – índice que soma pessoas com obesidade e sobrepeso – em sua relação com onze diferentes tipos de câncer. Um desafio social a ser enfrentado, e que acarreta problemas não apenas para a saúde e vida das pessoas diretamente afetadas e suas famílias, mas também para os cofres públicos da União.
A pesquisa do INCA estimou o custo federal dos cânceres relacionados ao excesso de peso em adultos de 30 anos ou mais, utilizando os dados de atendimento oncológico de 2018 registrados nos Sistemas de Informação Hospitalar e Ambulatorial do SUS. Para o cálculo do excesso de peso, foi considerado o IMC do ano de 2008 de indivíduos com 20 anos ou mais dependentes do sistema público de saúde. Os dados estão apresentados em dólares internacionais (Int $), convertidos dos valores monetários em Reais (R$) levando em conta a paridade do poder de compra do ano de 2018. As frações de câncer atribuíveis ao excesso de peso (PAF) foram calculadas usando os riscos relativos da literatura científica e a prevalência obtida com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009.
Primeiro, estimou-se o custo total do câncer (relacionado e não relacionado ao excesso de peso) para avaliação subsequente do custo do câncer relacionado ao excesso de peso. Os custos do câncer atribuíveis ao excesso de peso foram estimados pela multiplicação do custo federal de cada câncer por seu PAF correspondente. No Brasil, as frações atribuíveis populacionais mais altas se deram para câncer de endométrio (23,29%), esôfago (16,05%) e fígado (14,50%). Este é o primeiro estudo a estimar os custos do câncer atribuíveis ao excesso de peso usando a metodologia de risco atribuível no Brasil.
O custo federal do Brasil com atendimento ambulatorial e hospitalar para todos os tipos de câncer avaliados foi de Int $ 1,73 bilhão, sendo o gasto com tratamento de câncer atribuível ao excesso de peso equivalente a Int $ 710,09 milhões. Deste total, o gasto com excesso de peso foi de Int $ 30,48 milhões, o que representa 1,76% do custo total com atendimento oncológico do SUS em 2018. As despesas ambulatoriais atribuíveis ao excesso de peso somaram Int $ 20,41 milhões (80% para quimioterapia e 14% para radioterapia). Despesas com internação somaram Int $ 10,06 milhões (82% para cirurgia). Os cânceres de mama (somente mama 50%), endometrial e colorretal foram responsáveis por quase 80% dos custos totais atribuíveis ao excesso de peso (lembrando que há reconhecida relação com consumo alimentar inadequado e cânceres de mama e colorretal). Os custos ambulatoriais representaram quase 70% dos custos totais atribuíveis ao excesso de peso.