O desafio urgente das mudanças climáticas e a atividade física

atividade física

Para além dos amplos benefícios da prática regular de atividade física sobre a saúde, a Organização Mundial da Saúde reconhece que a adoção de políticas nesse sentido é também associada a impactos sociais e econômicos, podendo contribuir para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas. Segundo dados do Vigitel, do Ministério da Saúde, no conjunto das 27 cidades investigadas, apenas 41% dos brasileiros atenderam, em 2023, aos níveis mínimos de atividade física no tempo livre, sendo estes valores maiores entre homens (45,8%) do que entre mulheres (36,2%). 

Com o passar da idade e quanto menor o nível de escolaridade, menores são os níveis de atividade física. Três em cada quatro adultos praticam atividades em locais de acesso público como ruas, praças e parques. Neste contexto, vale destacar que a mais importante política de promoção de atividade física no país, o Programa Academia da Saúde, lançado em 2011 pelo Ministério da Saúde, prioriza a prática de atividade física no tempo livre, sendo realizadas, na maior parte das vezes, em espaços abertos. Contudo, mesmo em um país como o Brasil, com rica diversidade e recursos naturais e com clima convidativo para atividades ao ar livre, as mudanças climáticas já são uma realidade que tem colocado em risco oportunidades para um estilo de vida mais ativo. Ações de adaptação climática são urgentes para que populações vulneráveis tenham acesso a espaços seguros para a prática de atividade física.

Enquanto a negligência das lideranças globais impede a concretização de acordos multilaterais capazes de frear o aumento médio de temperatura do planeta a valores acima de 1,5°C, chuvas fortes, secas severas e ondas de calor já mudam as nossas rotinas. Um exemplo aconteceu em novembro, quando a cidade do Rio de Janeiro viveu ondas de calor extremo, registrando uma sensação térmica de 58,5°C às nove horas da manhã, moradores de Manaus viveram uma densa onda de fumaça com impactos importantes sobre a qualidade do ar. Situações que colocam em risco aqueles que pretendem realizar atividade física ao ar livre, seja pelos desafios fisiológicos impostos ao corpo pelo calor extremo, seja pelos riscos de um ar cada vez mais poluído.

Diante desse cenário, a conscientização pública sobre os riscos associados à poluição do ar e a necessidade de adaptação às mudanças climáticas é o primeiro passo. Medidas concretas, como políticas de controle e monitoramento da qualidade do ar, práticas sustentáveis para a prevenção de queimadas, programas de reflorestamento urbanos com ampliação das áreas de sombreamento nas cidades, desocupação e realocação de pessoas que vivem em locais de risco como encostas ou locais suscetível a inundações e incêndios, bem como o incentivo à mobilidade ativa e menor uso de carros nos centros urbanos devem ser implementadas com urgência.

Cidades espalhadas pelo mundo têm discutido cada vez mais a criação dos chamados oásis urbanos, que são espaços públicos que permitem refúgio ao estresse térmico que o calor gera às pessoas. E neste grupo, estão incluídos não apenas os mais vulneráveis em situação de rua, mas também os pedestres, que passam horas no transporte público, as crianças que caminham até suas escolas, os trabalhadores expostos ao calor, como entregadores e porque não dizer, aqueles que desejam praticar atividade física ao ar livre.

O desafio ambiental enfrentado pelos praticantes de atividades ao ar livre no Brasil exige uma resposta coordenada e eficaz. O desenvolvimento de cidades mais resilientes e sustentáveis é essencial para garantir que as futuras gerações possam desfrutar dos benefícios das atividades físicas ao ar livre. A busca por soluções inovadoras e a colaboração entre comunidades, governos e organizações da sociedade civil são fundamentais para superar esses desafios e manter viva a tradição brasileira de atividades físicas em meio à diversidade natural e social do nosso povo.

Cassiano Rech, Ricardo Brandão, Roseanne Autran, Adriano Akira, membros do Grupo de Trabalho em Ambiente e Atividade Física da Sociedade Brasileira de Atividade Física 

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