Fonte: Folha de S.Paulo
18/02/09
Cotidiano
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na porta do shopping Pátio Higienópolis, a estudante Maria Alice Mota, 19, de cigarro na mão, diz ser a primeira a reconhecer que “um fumante incomoda muita gente, e dois fumantes incomodam muito mais”. A amiga Ana Paula Ribeiro, 20, discorda: “O meu direito de fumar é igual ao de quem não fuma”.
Pesquisa Datafolha com jovens entre 12 e 22 anos, faixa etária de quem puxa seu primeiro maço, revela que 85% deles são contrários ao fumo em ambientes fechados -o mesmo proposto em um projeto de lei em tramitação na Assembleia paulista.
Encomendado pela ACT (Aliança de Controle do Tabagismo), o levantamento mostra que, mesmo no extrato dos fumantes, a rejeição é alta: 63% disseram aprovar o banimento do fumo em lugares fechados.
A pesquisa foi feita com 560 jovens de ambos os sexos nos dias 18 e 19 de dezembro passado em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Brasília. “Tem toda uma questão de iniciação a que os políticos precisam ficar atentos. É nesses ambientes que os jovens começam a fumar. A moçada não começa a fumar dentro de casa”, diz Paula Johns, diretora da ACT.
Segundo o Datafolha, a maior rejeição ao fumo foi detectada em restaurantes -90% dos jovens são contra e 8% a favor. Em bares e boates a reprovação foi de 60% e 62%, respectivamente (contra 32% e 31% favoráveis). Entre os entrevistados de 12 a 14 anos, 3% afirmaram ser fumantes. O índice sobe para 11% entre os jovens de 15 a 17 anos e chega aos 19% entre os de 18 e 22 anos.
Entre as cidades pesquisadas, Porto Alegre é a que tem o maior percentual de jovens fumantes, com 28%. São Paulo vem em segundo, com 13%, seguido de Rio de Janeiro (12%), Salvador e Belo Horizonte (10%) e Brasília (6%).
Projeto de lei
Na Assembleia, o projeto de lei do governador José Serra, apresentado em agosto do ano passado, passou pelas comissões de Constituição e Justiça e de Saúde e Higiene, com pareceres favoráveis e, segundo o Legislativo, está pronto para ser votado. “A pauta é polêmica e não convém colocar em semanas fracas como esta. Não sei se entra antes de 15 de março”, diz o deputado Barros Munhoz, líder do governo.
Em nota, a fabricante Philip Morris diz que “o fumo em locais públicos fechados deve ser regulamentado”.
Para a concorrente Souza Cruz, “os fumantes e não-fumantes devem ter seus direitos respeitados” com “áreas destinadas a fumantes”.
À amiga de Maria Alice, Ana Paula Ribeiro, me dirijo com grande satisfação: sou ex-fumante; fumei durante 37 anos e embora sentisse prazer em fumar, não achava justo jogar fumaça nas pessoas que estivessem frequentando os mesmos lugares que eu.
Ela não se expressou bem ao dizer que “seu direito de fumar é igual ao de quem não fuma”, pois esqueceu que quem tem direitos tem, também, deveres. Ela tem o direito de fumar e o não-fumante tem o direito de não fumar passivamente, ou seja, não é obrigado a respirar a fumaça do cigarro dela.
Se ela estivesse fumando em área apropriada, gostaria que um não-fumante fosse ficar ao seu lado e impusesse que ela apagasse o cigarro? Certamente que não!
Da mesma forma, estando em lugares frequentados por não-fumantes, não tem o direito de impor que estes respirem a fumaça do seu cigarro.
Antes de pensar em direitos ou deveres, é preciso pensar em RESPEITO PELOS OUTROS.