Australianos dizem: Lei impõe o fim dos sabores nos produtos derivados de tabaco

Matéria publicada no jornal International Herald, da Austrália, mostra que mais de sete meses se passaram desde que o país impôs uma das leis mais duras do mundo para rótulos de advertência de tabaco, trocando embalagens para imagens gráficas de úlceras na boca, pulmões cancerosos e membros gangrenados.

Especialistas dizem que ainda é muito cedo para saber qual o impacto que a lei terá sobre os usuários de tabaco, mas uma coisa é certa: fumantes acham que o gosto do cigarro está estranho. As queixas sobre o sabor começaram a aparecer quase imediatamente após a lei ter entrado em vigor, em 1o de dezembro. Isso pode significar muito para os esforços dos defensores da saúde que visam à prevenção do tabagismo.

“É claro que não houve reformulação do produto,” disse a Ministra da Saúde da Austrália, Tanya Plibersek. “Assim que as pessoas forem confrontadas com a horrível figura do pacote de cigarro haverá uma associação psicológica de algo com sabor desagradável.”

“Poderá levar alguns anos até que se possa realmente dizer que os esforços diminuíram as taxas de fumantes e melhoraram a saúde da população. Mas, a melhor indicação, a curto prazo, que posso fazer é que está funcionando pela avalanche de reclamações que tivemos nos dias após a introdução da embalagem simples, as quais acusaram o governo de mudar o gosto dos cigarros,” disse Plibersek.

Todas as partes na batalha do tabagismo na Austrália têm sua própria visão sobre os efeitos da lei. Os números de vendas mais confiáveis ​​são dos proprietários e das empresas de tabaco, enquanto que números recentes do governo não serão lançado até setembro.

A Austrália tem sido modelo internacional em exigir imagens gráficas em rótulos de tabaco. Ministros da União Europeia concordaram, no mês passado, com novas regras que exigem advertência de saúde, qe combinam imagens e texto cobrindo 65% da frente e do verso de todos os maços de cigarros. Antes da lei, era exigido 40%. As regras exigem a aprovação pelo Parlamento Europeu

Em 2009, uma lei dos Estados Unidos proposta pela Food and Drugs Administration (FDA) exigiu que fossem exibidos grandes avisos gráficos e texto na metade superior da frente e de trás dos maços. Mas, como os tribunais federais sido desafiados pela indústria do tabaco, o FDA ainda não tem um conjunto final de requisitos de rotulagem.

O tabaco é pesadamente tributado na Austrália, onde os fumantes gastam cerca de 16 dólares australianos, ou US$ 14.70, por um maço de cigarros. Em parte, como resultado, as taxas de tabagismo na Austrália diminuíram.

No ano passado, de acordo com os últimos dados do Australian Bureau of Statistics, 20,4% dos homens adultos eram fumantes e 16,3% das mulheres adultas. Nos Estados Unidos, os dados mais recentes do Center for Disease Control and Prevention (CDC), mostrou que o índice de fumantes foi de 21,5% entre os homens adultos e 17,3% para mulheres adultas.

Fumar também é proibido em quase todos os espaços públicos fechados na Austrália, incluindo restaurantes, bares, instalações desportivas e locais de negócios.

A nova lei de rotulagem, que proíbe logomarcas e requer advertências de saúde cobrindo 75% da frente dos pacotes de cigarro e 90% da parte de trás, tem como objetivo remover o fascínio de marcas bem conhecidas.

No ano passado, as tabaqueiras British American Tobacco, Imperial Tobacco, Japan Tobacco e Philip Morris Austrália desafiaram a lei, argumentando que era uma violação dos seus direitos de propriedade intelectual – e a ação foi indeferida pela Alta Corte Australiana.

Cuba, o maior produtor mundial de charutos, apresentou um “pedido de consultas”, em maio, contrário à Austrália, através da Organização Mundial do Comércio. É a primeira vez que o país usou o fórum para confrontar outra nação diretamente sobre suas leis comerciais. A República Dominicana, Honduras e Ucrânia também pediram explicações à Austrália sobre a questão na OMC, citando “barreiras técnicas” para o comércio e as violações dos direitos de propriedade intelectual.

Em outro movimento semelhante, a Japan Tobacco, a maior fabricante de cigarros de capital aberto da Ásia, disse, no final de junho, que havia entrado com uma ação contra o governo tailandês sobre seu plano, anunciado em abril, de aumentar o tamanho das advertências gráficas para 85% da frente do maço de cigarros.

Evelyn Platus, dona de tabacaria há mais de 20 anos na região de Chinatown, em Sidney, reclama que seu negócio foi atingido por altos impostos e regras restritivas para o tabaco.

“As empresas de cigarro vão negar, mas todos os consumidores estão nos dizendo que os cigarros estão com um sabor diferente”, Platus disse. “Com todas as mudanças que foram forçados a fazer, não havia nenhuma maneira de recuperar o seu dinheiro, então as empresas de cigarro se aproveitaram disso e trocaram seu produto por outro”.

A troca de sabor é um argumento comum entre os fumantes australianos, repetido em fóruns na internet dedicados ao assunto. Em algumas versões dessa teoria da conspiração, o governo é o responsável por alterar o sabor e, em outros, o Estado é acusado de ter conspirado com as companhias de tabaco.

Scott McIntyre, porta-voz da British American Tobacco, descartou preocupações com sabor. “É a mesma mistura de tabaco, sendo feito da mesma forma, nas mesmas fábricas australianas, pelas mesmas pessoas, como sempre tem sido feito há muito tempo”, em entrevista na sede da empresa.

As novas restrições não tiveram efeito algum sobre as vendas de tabaco, segundo ele, que se recusou a fornecer os números, alegando confidencialidade.

Alguns especialistas haviam previsto tal resultado antes de a lei ser promulgada, disse Simon Chapman, professor de saúde pública da Universidade de Sydney. “Que os fumantes estão sentindo uma reação desagradável com as suas marcas de longa data, isso é um sinal precoce e positivo para os defensores antifumo”, disse ele.

“Você pode influenciar a percepção do gosto pela embalagem. O exemplo óbvio disso é o vinho”, disse ele. Em qualquer loja de bebidas, “você não conhece a maioria dos vinhos, e você meio que pensa, “Aquele parece ser bom. A embalagem realmente interfere no sabor”.

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