Cachimbo das arábias

Narguilé é mania entre jovens; apesar do “gostinho” dado pelas essências, o que se fuma é tabaco

No verão do ano passado, Jorge (nome fictício), 15, estava de férias na praia com um amigo quando decidiram comprar juntos um narguilé -espécie de cachimbo com um vaso onde se coloca água, que resfria a fumaça.
Pagaram R$ 80 pelo aparelho, que fica “um tempo na casa de cada um” e é levado para festas a que vão juntos.
Gelo e balas misturados à água também fazem parte do “cardápio”, assim como o uso de leite. “Com leite sai mais fumaça”, garante Gabriela da Silva, 17. “O gelo e a bala dão uma refrescada na garganta”, diz Lucas Cunha, 15.
Ele ganhou seu narguilé há um ano e tem permissão dos pais para fumar em casa. “Eles preferem que eu faça perto deles. Como fumo com pouca frequência, deixam”, diz.
Vitor Chamma, 17, também pode fumar em casa. “Quando fumo é para criar uma roda e conversar com os amigos”, diz.
Fazer “uma social” e reunir-se em uma roda para bater papo são os principais motivos apontados para fumar narguilé. Geralmente rola uma “vaquinha” para comprar o fumo específico, mistura de tabaco e essências, como chocomenta. “Não tem efeito, só fica o sabor na boca”, afirma Jorge.

Perigos à saúde
O fato de a fumaça não ser tragada ou não dar “barato” não diminui os efeitos nocivos à saúde, já que fuma-se no narguilé a mesma planta dos cigarros (tabaco), segundo Jaqueline Issa, cardiologista do Instituto do Coração, em São Paulo.
“A concentração de monóxido de carbono na fumaça é maior do que na do cigarro. É mito dizer que a água filtra a fumaça”, diz. Outro perigo é a dependência, já que o narguilé pode viciar como os cigarros.
Desde outubro de 2009, uma lei proíbe a venda do narguilé no Estado de São Paulo para menores de 18 anos. Comprar o fumo, porém, não parece ser difícil. “Comprava fácil antes dos 18”, diz Felype Caian, 20.
Embora não seja a regra, também há quem misture ao fumo substâncias ilegais.
E quem troque a água por vodca no combo com o tabaco. “Isso é pior, pois um potencializa o outro. O narguilé é só outra maneira de fumar, pois o risco de adoecer é o mesmo”, diz Mauro Zamboni, da Sociedade Latino-Americana do Tórax.

Fonte:São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010 Folhateen
SAMIA MAZZUCCO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

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