ACT lamenta a perda de Zilda Arns

Como todos têm acompanhado através de notícias nos meios de comunicação, o Brasil perdeu uma grande médica pediatra e sanitarista, a Dra. Zilda Arns. Suas qualidades eram inúmeras e sua contribuição para saúde pública é reconhecida internacionalmente.

O que nem todos sabem é que recentemente a Dra. Zilda Arns havia manifestado expressamente seu apoio à proibição do fumo em ambientes fechados. Por ocasião da discussão sobre a lei antifumo do Paraná, foi pessoalmente conversar com deputados, solicitando que fosse aprovada a lei estadual que extinguia os fumódromos em locais fechados.

Em nome da Pastoral da Criança, enviou carta a todos os deputados estaduais do Paraná (reproduzida abaixo). A aprovação da lei pode ser considerada mais uma grande conquista em favor da população que contou com a notável participação da Dra. Zilda.

A ACT lamenta o trágico terremoto ocorrido no Haiti, que teve entre suas vítimas justamente a Dra. Zilda Arns.

Carta enviada aos Deputados Estaduais do Paraná:

Curitiba, 10 de setembro de 2009.
Of. nº 168/2009
Exmo. Sr.
Deputado Estadual Nelson Justus
Presidente da Assembléia Legislativa do Paraná

Paz e Bem!
A Pastoral da Criança, em sua missão de levar vida em abundância a todas as crianças, apóia todas as medidas que possam diminuir os malefícios que o fumo causa:

•Fumar ou ser fumante passiva durante a gravidez traz sérios riscos: abortos espontâneos, nascimentos prematuros, bebês de baixo peso, mortes fetais e de recém-nascidos, complicações com a placenta e episódios de hemorragia (sangramento) ocorrem mais frequentemente quando a mulher grávida fuma. A gestante que fuma apresenta mais complicações durante o parto e tem o dobro de chances de ter um bebê de menor peso e menor comprimento, comparando-se com a grávida que não fuma;
•Os riscos para a gravidez, o parto e a criança não decorrem somente do hábito de fumar da mãe. Quando a gestante é obrigada a viver em ambiente poluído pela fumaça do cigarro ela absorve as substâncias tóxicas da fumaça, que pelo sangue passa para o feto. Quando a mãe fuma durante a amamentação, a nicotina passa pelo leite e é absorvida pela criança
•Em bebês há risco:
– 5 vezes maior de morrerem subitamente sem uma causa aparente (Síndrome da Morte Súbita Infantil);
– Maior risco de doenças pulmonares até 1 ano de idade, proporcionalmente ao número de fumantes em casa
•Em crianças há maior frequência de resfriados e infecções do ouvido médio; risco maior de doenças respiratórias como pneumonia, bronquites e exarcebação da asma.

Segundo informações do INCA (Instituto Nacional de Câncer), 5,4 milhões de pessoas morrem por ano no mundo devido aos males provocados pelo tabaco. No Brasil esse número chega a 200 mil mortes. A previsão é de que em 2030, 8 milhões de pessoas morram em 80% dos países mais pobres.

Desde as descobertas sobre os malefícios do fumo passivo na década de 80, a tendência mundial tem sido a criação de ambientes fechados livres de fumo. A permissão da existência de fumódromos não mais atende ao que hoje se sabe em termos de proteção da saúde pública e ocupacional em relação à poluição tabagística ambiental.

A exposição à fumaça ambiental de tabaco causa graves danos à saúde. Não há níveis seguros de exposição e não há tecnologia de engenharia de ventilação eficaz. A Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Condicionamento de Ar alerta que “nenhuma tecnologia de engenharia de ventilação demonstra controlar os riscos impostos pela exposição à Poluição Tabagística Ambiental (PTA), apenas pode reduzi-los e pode controlar questões de conforto relacionados ao odor e à irritação sensorial impostos pela exposição. Portanto, fumódromos não resolvem o problema”.

Diversos países (Irlanda, Noruega, Nova Zelândia, Itália, Uruguai, França, entre outros) vêm adotando a proibição do tabagismo em locais de trabalho e em ambientes fechados de uso coletivo. Ao contrário do que a Indústria do Tabaco afirma, não se observou perda econômica no setor. Além disso, revisão de 26 estudos, feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mostrou que a legislação de ambientes livres de fumaça ajuda fumantes a parar ou diminuir o consumo. Fumantes diários, segundo esta revisão, fumam 30% mais se for permitido fazê-lo no ambiente de trabalho.

Preocupada com a saúde e o bem estar das gestantes, crianças e famílias, a Pastoral da Criança, no Guia do Líder, página 40, já traz o pedido que seus líderes orientem as famílias sobre os malefícios do cigarro, alertando que o mesmo provoca o nascimento de bebês com baixo peso, parto prematuro e aumenta as chances de o bebê nascer com problemas respiratórios e no coração.

Diante do exposto, a Pastoral da Criança presente em quase 4.000 municípios, com o apoio de seus 300.000 voluntários que acompanham 1,5 milhão de famílias, vem a Vossa Excelência pedir apoio para as medidas preventivas aos malefícios do fumo e juntar-se às entidades, organizações e movimentos que defendem o direito de respirar um ar limpo.

Desde já agradecemos a atenção de Vossa Excelência, colocamo-nos ao inteiro dispor, pedindo a Deus que sempre anime a todos nessa caminhada para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna, a serviço da vida e da esperança.

Atenciosamente,
Dra. Zilda Arns Neumann
Médica Pediatra e Sanitarista
Fundadora e Coordenadora Internacional da Pastoral da Criança
Coordenadora Nacional da Pastoral da Pessoa Idosa
Acadêmica Honorária Nacional da Academia Nacional de Medicina
Membro Titular Acadêmica Imortal da Academia Nacional de Economia

CC, por email, para os Deputados Estaduais do Paraná

http://www.pastoraldacrianca.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=258:pastoral-contra-o-fumo&catid=46:nacionais&Itemid=38

1 comentário em “ACT lamenta a perda de Zilda Arns”

  1. “O Haiti é aqui.”
    Não, o Haiti é lá onde ele sempre esteve esquecido.
    O Haiti é a prova irrefutável de que Deus não existe. Se ainda aquele povo insiste em glorificá-lo, é porque foi condicionado — todos somos produtos do meio, cães famintos sob vigas que não se sustentam. Foram soterrados pela esperança. Alguém em suas crendices lacrimosas há de dizer, as mãos levantadas aos céus, que, pelo menos, a cruz do Senhor Morto ficou de pé. Ficou de pé porque era feita de boa madeira, ora! Não preguemos, a partir de amanhã, o milagre da cruz. Não há milagre que não seja sustentado pela própria morte para confortar os moribundos. Talvez apenas um milagre seja recomendado ali: o da união dos outros povos para reconstruir aquele povo e soerguer sua pátria carcomida pela fome.
    Naquele instante trêmulo, onde estava Deus onipresente que não respondeu aos gritos de socorro? Onde estava Deus onipotente que não freou as lágrimas…? Ah, sim, “Ele escreve certo por linhas tortas”, ou seja: Ele mata por vias indiretas.
    Por mais que também soframos com o olhar soterrado da criança, jamais, em tempo algum, sentiremos em toda extensão a dor da mãe. E desta vez, nem se pode creditar à mãe África a desgraça de existir… A tragédia está à porta para uma reflexão momentânea. Daqui a pouco, as notícias vão escasseando e não choraremos mais os mortos-vivos, nem os mortos velhos.
    Se Deus existisse, decerto nos ensinaria tão somente uma lição. Uma que não cobrisse de escombros a vida suave de dona Zilda, nem deixasse órfãos dois milhões de crianças. Se alguém por aí adiante ainda teima que Deus existe, Ele está justamente nessa força medonha da natureza, não no homem que a destrói, não na imagem da catedral que foi ao chão.
    Assim concluo: Deus é a tragédia do universo à imagem e semelhança do homem que o inventou. Basta olharmos para o Haiti.

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