Novo coronavírus reforça a importância de prevenir doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs)

Hipertensão e doenças cardiovasculares, cânceres, diabetes mellitus e doenças respiratórias crônicas. Essa é a lista de algumas doenças que, quando associadas a infecção pelo Covid-19, expõem as pessoas a um pior prognóstico, ou seja, maior risco de agravamento e consequente risco de morte. E é também a lista das principais doenças crônicas não transmissíveis, as DCNTs, um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade. Neste texto, vamos trazer alguns dados alarmantes sobre esse tema e mostrar por que, no contexto de combate ao novo Coronavírus, diversas associações médicas estão emitindo notas técnicas e pareceres para orientar especialistas e pacientes.

Por um lado, as DCNTs doenças são a principal causa de morte e de incapacidade prematura no mundo, inclusive aqui no Brasil, responsáveis por 74% do total de mortes em 2016. Por outro lado, são doenças muitas vezes provocadas por um pequeno conjunto de fatores de risco que podem ser prevenidos, com destaque para o tabagismo, a alimentação inadequada, a inatividade física e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

Dados da última pesquisa Vigitel, realizada pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde ao longo de 2018, mostram um cenário preocupante: 

  • 24,7% da população brasileira tem diagnóstico de hipertensão
  • 7,7% tem diagnóstico de diabetes
  • 9,3% dos adultos são fumantes
  • 55,7% dos adultos tem excesso de peso
  • 19,8% são obesos
  • 44,1% não alcançaram um nível suficiente de prática de atividade física
  • 17,9% fizeram uso abusivo de álcool nos 30 dias antecedentes à pesquisa

No contexto do combate a Covid-19, os dados iniciais sobre a associação das DCNTs com a infecção pelo coronavírus são alarmantes. Uma das pesquisas realizadas no início da pandemia, na China, mostrou que os pacientes portadores DCNTs, que representam em torno de 25 a 50% dos pacientes infectados, apresentam maiores taxas de mortalidade, como a seguir:

  • Câncer: 5,6%
  • Hipertensão: 6%
  • Doença respiratória crônica: 6,3%
  • Diabetes: 7,3%
  • Doença cardiovascular (DCV): 10,5%
Posicionamentos das Associações Médicas

Diversas associações de profissionais da saúde vêm se posicionando e repassando orientações no contexto do combate ao coronavírus. A Associação Médica Brasileira (AMB) criou um hotsite especial para reunir informações e posicionamentos sobre o Covid-19 emitidos por diferentes sociedades médicas e conselhos. 

A Sociedade Brasileira de Diabetes, por exemplo, publicou uma nota de esclarecimento que afirma: “As pessoas com diabetes vulneráveis e que provavelmente terão resultados piores se contraírem COVID-19 são aquelas com longa história de diabetes, mau controle metabólico, presença de complicações e doenças concomitantes e especialmente os idosos (>60 anos), independente do tipo de diabetes. O risco de complicações na pessoa com diabetes bem controlado é menor, tanto para o diabetes tipo 1 quanto para o tipo 2”.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia, por sua vez, instituiu um gabinete de crise para acompanhar a evolução da Covid-19 no Brasil, e afirma que se posicionará sobre todos os aspetos de interesse que afetem a especialidade. No mesmo site, estão sendo reunidos boletins técnicos, palestras e webinários específicos sobre o novo Coronavírus, voltados para médicos. 

Pacientes com câncer

Além de fazer um alerta específico a respeito da relação entre tabagismo, narguilé e coronavírus, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) publicou recomendações específicas para os pacientes internados em suas acomodações, mas que são orientadores para outros serviços de saúde que ofereçam tratamento para pessoas com câncer: “A pessoa com câncer é mais propensa a desenvolver sintomas graves caso seja contaminada pelo novo coronavírus (Covid-19), classificado pela Organização Mundial da Saúde como pandemia”, alerta o texto, que inclui a restrição severa de visitas e o reagendamento de consultas ambulatoriais de controle. 

A Fundação do Câncer também publicou um texto com informações aos pacientes. “A COVID-19 é mais preocupante para alguns grupos de risco. Entre eles, estão os pacientes com câncer, cujos sistemas imunológicos são frequentemente enfraquecidos pela doença e seus tratamentos, especialmente nos casos de neoplasias hematológicas (do sangue); em quimioterapia ativa; e em transplantados de medula óssea”, afirma. E recomenda que os tratamentos contra o câncer não sejam suspensos, nem o uso dos medicamentos prescritos pelos médicos.

A pandemia do coronavírus vem impactado severamente a vida das pessoas – e nossa forma de ver o mundo. O momento é de crise – mas também uma oportunidade para refletirmos e agirmos, a longo prazo, na prevenção das doenças crônicas não-transmissíveis. Elas podem ser evitáveis, e queremos, mais do que nunca, saúde para todas e todos os brasileiros.

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