PMI repete afirmação que deseja parar de vender cigarros, mas é necessário bem mais que um discurso sedutor para mitigar os danos do tabaco

mitigar os danos

Há quatro anos, publicamos um artigo em resposta a uma declaração da Philip Morris, que afirmava que desejava parar de vender cigarros tradicionais para focar na venda de cigarros eletrônicos e outros novos dispositivos, supostamente para tentar mitigar os danos causados pelo tabagismo. Hoje, quinta-feira, relembramos esse artigo como um TBT (também conhecido como Quinta da Nostalgia), visto que a empresa repetiu o discurso em uma nova entrevista.

As questões que levantamos no artigo de 2018 se mantêm: se a Philip Morris realmente quer contribuir para a saúde pública, por que continua a dificultar a implementação de políticas comprovadamente eficazes para reduzir o número de fumantes? O fim do uso dos aditivos de sabor em cigarros é só um exemplo de medida que já poderia estar em vigor há muito tempo, mas há dez anos – dez anos! – é sucessivamente adiada por recursos judiciais obtidos pela indústria do tabaco.

Enquanto luta contra a proibição dos aditivos e outras políticas defendidas por organizações da saúde, a Philip Morris e outras empresas de cigarro fazem lobby pela liberação dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) no Brasil, repetindo o argumento de que eles seriam menos nocivos e sua intenção de substituir os cigarros tradicionais por esses novos produtos. O que eles não mencionam, no entanto, é que os DEFs estão muito longe de serem produtos inócuos. Os argumentos utilizados pela indústria focam apenas no fato de que eles funcionam com um mecanismo de aquecimento, em vez de combustão, mas isso não impede que esses produtos sejam altamente viciantes – muitos contêm uma quantidade de nicotina bem superior aos cigarros tradicionais – e façam mal para a saúde, como já mostraram vários estudos.

Relembrar o nosso artigo de 2018 neste TBT é algo que não gostaríamos de ter que fazer. Preferiríamos que as discussões sobre o futuro do controle do tabaco estivessem focadas em medidas que sabemos que funcionam – além da já citada proibição dos aditivos, a adoção de embalagens padronizadas e o aumento regular de preços e impostos para produtos de tabaco também são políticas muito eficazes para diminuir o tabagismo. Infelizmente, a indústria continua insistindo em promover seus novos produtos, que têm como 70% de seu público jovens que provavelmente nem teriam começado a fumar cigarros tradicionais. Enquanto isso acontecer, vamos continuar repetindo: é necessário bem mais que um discurso sedutor para mitigar os danos do tabaco. Se a Philip Morris quer mesmo contribuir para a saúde pública, devia começar parando de fazer oposição a políticas de controle do tabagismo.

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