Não raramente, nos deparamos com ações de grandes empresas de bebidas adoçadas com foco nelas: as mulheres. São cursos de capacitação, coletivos de debates, troca de experiências e formações para o empreeendedorismo que tomam conta de postagens nas redes sociais das indústrias, ilustradas com mulheres brancas e negras sorrindo, mostrando certificados e compartilhando sonhos e expectativas para o futuro.
Mas será que o tal “empoderamento feminino” faz parte mesmo do dia a dia das empresas? Só nos últimos anos a Coca Cola do Brasil lançou os programas Meu Negócio é Meu País, Empreenda como uma mulher todas iniciativas voltadas para capacitar mulheres para o mercado de trabalho e geração de renda.
No entanto, em seu Relatório de Sustentabilidade de 2020, último disponível, a Solar Coca Cola, a segunda maior fabricante do Sistema Coca-Cola no Brasil, reportou ter entre seus colaboradores contratados apenas 1.434 mulheres contra 10.647 homens naquele ano.
“Ainda é um desafio a questão do equilíbrio entre homens e mulheres no quadro de pessoas da Solar. A empresa faz parte de um setor de negócios – o da indústria – que, de um modo geral, enfrenta dificuldades para reverter a tendência de contar com uma série de postos de trabalho ocupados tradicionalmente por homens, principalmente nas operações de fábricas, nas áreas de transporte”, diz o texto.
A Pepsico seguiu na mesma linha: a empresa realiza o programa “Mulheres com Propósito”, que pretende capacitar duas mil mulheres para o mercado de trabalho até 2025, oferecendo ferramentas para que elas ampliem oportunidades, abram o próprio negócio e planejem a vida profissional e financeira. É oferecido, ainda, uma mentoria com executivas da companhia, que compartilham suas experiências sobre negócios.
A empresa ainda não chegou a ter metade dos cargos de liderança ocupada por mulheres. Eram 47% em 2021, segundo a companhia, que reforça que em seu Comitê Executivo elas já são 60%. “Nossa meta é chegar a 50% até 2025 em todo o mundo”, se compromete em seu site oficial, com poucas informações sobre que ações implantará para alcançar a meta.
É de amplo conhecimento que no Brasil a realização de ações sociais por empresas, além de fomentar marketing e publicidade, também ajuda a abater uma porcentagem considerável dos seus impostos, em especial entre as indústrias de ultraprocessados, já com muito subsídios.
Apesar de ser mais da metade da população brasileira, as mulheres ocupam apenas 38% dos cargos de liderança em empresas com atuação no Brasil, em 2022, segundo o relatório Women in Business. Mais ainda: elas são a maioria entre as mais pobres e as principais responsáveis pelo trabalho doméstico e cuidado com os filhos, o que dobra, ou triplica, a carga de trabalho.
Então, neste 8 de março, Dia Internacional de Luta pelos Direitos das Mulheres, vale questionar: o quão válidos são programas que “capacitam” mulheres, mas não priorizam sua inclusão no mercado de trabalho, com remuneração digna e jornada compatível com as suas demandas na sociedade? O quanto essas ações estão realmente dispostas a mudar a realidade das mulheres brasileiras e o quanto de marketing existe por trás delas? Seguimos atentas.