Pesquisa do Idec identifica agrotóxicos em alimentos ultraprocessados

agrotóxicos em alimentos ultraprocessados

Uma pesquisa inédita realizada pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) analisou 27 produtos ultraprocessados consumidos pelos brasileiros. De oito categorias, como bolachas recheadas, cereais matinais e bisnaguinhas, foram encontrados resíduos de agrotóxicos em seis. Ao todo, 59,3% dos produtos analisados apresentaram pelo menos um tipo de agrotóxico, inclusive glifosato, agrotóxico que já foi banido em diversos países do mundo por seus riscos ambientais e para a saúde. Acesse a cartilha com o estudo completo em: www.idec.org.br/veneno-no-pacote 

Os produtos onde foram identificados agrotóxicos são: a bebida de soja Naturis (Batavo); o cereal matinal Nesfit (Nestlé); os salgadinhos Baconzitos e Torcida (ambos da Pepsico); os pães bisnaguinha Pullman (Bimbo), Wickbold, Panco e Seven Boys (da Wickbold); os biscoitos de água e sal Marilan, Triunfo (Arcor), Vitarela e Zabet (ambos da M Dias Branco); as bolachas recheadas Bono e Negresco (Nestlé), Oreo e Trakinas (Mondeléz).

Respostas dos fabricantes

Os fabricantes dos produtos citados já foram notificados em relação às substâncias detectadas em seus produtos. Os que responderam ao Idec alegam que a quantidade de agrotóxico está dentro dos limites permitidos ou que seguem boas práticas dos fornecedores de matéria-prima. De fato, não há regulação sobre o limite máximo desses resíduos em ultraprocessados, pois a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) apenas monitora essas substâncias nos alimentos in natura. Entretanto, para Teresa Liporace, diretora executiva do Idec, “é urgente que os órgãos fiscalizadores se debrucem sobre isso, e que a população seja informada a respeito da contaminação do que está comendo, bem como sobre os riscos desses produtos para a saúde”.  

O Idec encomendou a análise a um laboratório que é referência nacional, acreditado pelo Inmetro, credenciado no MAPA (Ministério da Agropecuária e Abastecimento) e utilizado pela  Anvisa. O resultado foi organizado pela equipe multiprofissional do Idec e transformado numa cartilha detalhada. Para Rafael Arantes, nutricionista do Idec, o que mais chamou a atenção foram especialmente os ultraprocessados à base de trigo. “Encontramos resíduos de agrotóxicos em todos os que foram testados, com destaque para a presença de glifosato na maior parte dos produtos. É bem preocupante”. 

Agrotóxicos das lavouras brasileiras

Todos os agrotóxicos encontrados nos alimentos analisados estão presentes nas lavouras brasileiras, como o glifosato, herbicida mais usado no mundo. Em 2015, a Iarc (Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer), da OMS (Organização Mundial da Saúde), concluiu com base em centenas de pesquisas que o glifosato era “provavelmente carcinogênico” para humanos. No Brasil, a Anvisa decidiu no ano passado manter a liberação do glifosato, mas com restrições. 

“Jogamos luz em um problema que ainda precisa ser amplamente monitorado e melhor compreendido, mas podemos afirmar que os ultraprocessados representam um perigo duplo para a população”, afirma Rafael Arantes. “Além dos malefícios já conhecidos para a saúde, encontrar agrotóxicos nesses produtos acende mais um alerta, indicando uma conexão com a forma insustentável de produção de commodities que são alguns dos principais ingredientes para esses produtos”. 

 

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