Cigarro, um amigo da onça

Compartilho depoimento da Valéria Martins Copelli, que é pedagoga, cronista e poetisa.
Acredito que muitos leitores e participantes do blog vão se identificar.

“Fui apresentada a ele, oficialmente, por volta dos meus catorze anos. Estudava no período da manhã e, à tarde, ia até a casa de uma colega de escola e de classe para lhe fazer companhia, pois ela estava convalescente, sem poder se locomover muito, e eu costumava passar as tardes lá.
Eis que, num dado momento, minha amiga me convidou para subir ao seu quarto e olhar seus álbuns de artistas, verdadeiras obras de arte, feitas manualmente, com colagens de fotos e artigos de revistas sobre os mais renomados e importantes artistas daquela época. Se ela os guardou até hoje são verdadeiras relíquias.
E, para minha surpresa, ela trancou a porta, acendeu um cigarro e me ofereceu outro. A sua mãe era fumante e isso explica a facilidade do acesso, com certeza ela tinha pegado do maço da sua progenitora. Experimentei, só aspirei, não sabia tragar. Isto foi uma conquista posterior. Primeiro soltar a fumaça pelo nariz, que era mais fácil, e depois tragar e segurar na garganta até baforá-la devagar.
Eu penso que sua mãe desconfiou e a chamou, pois minha amiga então abriu a janela e sacudiu o ar com as mãos para o cheiro se dissipar.
A partir daí, comecei a fumar. Um cigarro fraco, “Minister”, mas eram poucos por dia. Quando algum amigo queria nos agradar, pois, na verdade não tínhamos dinheiro, presenteava-nos com um maço de cigarros importado, mais fino, chique.
E era natural fumarmos. A minha geração foi fumante. Fomos levados a sermos tabagistas. Era liberado, incentivado seu uso. Em festas era muito elegante fumarmos.
Um belo dia, conscientizei-me. Recebi ajuda externa, orientação de uma pessoa muito querida, que viria a ser o pai dos meus adorados filhos. João me disse: “Se você quer ser mãe, pare de fumar.” Ele, fumante confesso.
Parei por conta própria, com direito a algumas pequenas recaídas e, há anos, não coloco um cigarro na boca.
Não posso precisar se há 10, 15 anos ou mais, fomos acometidos por campanhas orientadoras no sentido de que o cigarro faz muito mal à nossa saúde, muito mal mesmo. E foram surgindo movimentos como “espaço para fumantes e não fumantes” em restaurantes, bares, as pessoas começaram a se preocupar com o fumante passivo e passaram a sair do ambiente para ir fumar lá fora.
Fomos nos acostumando com as campanhas, elas são bem-vindas e profícuas . Hoje pouco se vê a nossa juventude com um cigarro na boca. Fique estarrecida ano passado, no mês de maio, com o número de jovens fumantes na cidade de Buenos Aires. As pessoas, de modo geral fazem uso do cigarro como fazíamos no Brasil, décadas atrás. Percebe-se que o governo argentino não move uma palha nesse sentido e tal situação me alarmou. Senti como se eles estivessem abandonados.
Que continuem as campanhas com muita divulgação e incentivo para se parar de fumar. Nós conseguimos avançar muito nesse sentido e precisamos ir além e ampliar esse mapa da saúde.”

http://www.jj.com.br/internas/estilo/noticias-144-cigarro-um-amigo-da-on%C3%A7a

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