Agosto dourado

Passa ano, entra ano, a Semana Mundial do Aleitamento Materno desperta emoções intensas aqui dentro de mim. O Agosto Dourado sempre me faz refletir muito sobre a importância da amamentação. Talvez por isso tenha sido convidada a escrever este texto e abrir o coração, mas dessa vez escrevo com mais responsabilidade e entendimento do meu dever de comunicar. Explico: além de nutricionista e jornalista, sou mãe de um menino de 8 anos, o Mateus, que tem alergia a três proteínas do leite desde bebê. Muito antes de vivenciar a maternidade, sempre sonhei com o momento da amamentação, por tudo o que ela representa e significa. Mas faltou informação a mim e ao meu marido porque, por mais que tivéssemos feito cursos variados para mãe e pai “grávidos”, Mateus recebeu a fórmula de leite de vaca ainda no berçário da maternidade, com horas de vida. Enquanto eu estava no quarto, meu bebê estava no berçário para alguma demanda de medições-troca de roupa-fralda e, sem nosso conhecimento e nossa autorização, tomou a famosa mamadeira de berçário. Essa prática precisa acabar nas maternidades e hospitais do Brasil. Os médicos, enfermeiros e profissionais de saúde em geral precisam entender que prescrever e ofertar a mamadeira sem uma real necessidade (e essa real necessidade é MUITO, MUITO rara) é ir contra o aleitamento materno.

A oferta equivocada da mamadeira no berçário acontece em grande parte pelo alto número de cesarianas. O leite ainda não “desceu”, os bebês no berçário choram e qual acaba sendo a solução mais “fácil”? A fórmula…

Mas é preciso entender que precisamos mudar essa realidade. A amamentação logo após o nascimento, na primeira hora de vida, é benéfica para o bebê e para a mãe. A composição do leite é única e atende a todas as necessidades da criança, além de protegê-la contra doenças na infância e na fase adulta. Produzido naturalmente pelo corpo da mulher, o leite é riquíssimo em anticorpos, tem influência na relação do bebê com a comida e na formação do gosto. Não existe alimento melhor nos primeiros anos de vida.

E onde entra a alergia alimentar nessa história? Pouca gente sabe, mas a mamadeira oferecida ao bebê no berçário é chamada informalmente de “mamadeira fatal”. Segundo o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar, publicado este ano e elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, o contato precoce do bebê com fórmulas de leite de vaca pode induzir à disbiose intestinal, tornando-se um importante fator de risco na alergia alimentar.

Já me culpei muito pela mamadeira do berçário e pela alergia alimentar do Mateus. Mas hoje, de forma mais racional, percebo que o problema é bem maior e que, se eu tivesse a informação que tenho hoje, nossa história certamente seria diferente. Quantas gestantes não devem estar lendo este texto agora? E é para elas que eu escrevo com muito amor: ajudem a mudar essa realidade, informem-se sobre o assunto, não deixem que seus bebês recebam o leite de vaca na maternidade. Questionem o médico, empoderem-se, informem-se, perguntem, rebatam. Não fiquem conformadas se disserem que “o jeito é a mamadeira”: o melhor alimento para seu bebê está dentro do seu peito e se chama leite materno.

Mariana Claudino é jornalista e nutricionista da ACT Promoção da Saúde e membro da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável

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